AGENTES DE PASTORAL NEGROS
Conscientização, Organização, Fé e
Luta
São Paulo, 13 de Abril de 2013
Malungos
e Malungas,
Companheiros
e Companheiras de Fé e Luta!
Nesta Carta
Mensal, desejo continuar à refletir com vocês o significado do papel que os
Agentes de Pastoral Negros do Brasil tiveram nessas três décadas no processo de
conscientização e descoberta da negritude em diversos Estados, grupos, pessoas
levando o negro a entrar no seu mundo real e assumir uma nova postura diante de
si, da vida e da sociedade.
Esta mudança vai
marcar a saída de uma posição de não aceitação do seu ser negro, para uma
posição de gostar de ser negro e a valorizar os elementos próprios da negritude
em especial a cultura, a vestimenta, a fé a partir da experiência e do encontro
pessoal de cada um.
Este
reconhecer-se negro devolve-lhe a identidade, algo tão difícil de ser
recuperado para o negro. Num primeiro momento essa descoberta fica a nível
pessoal, passando depois a assumir uma nova dimensão na sua vida: a
comunitária, a da militância coletiva. Dai
para diante o retrocesso eu diria, é algo impossível. Ainda me recordo
emocionado a minha chegada nos APNs, e ai já se vão nove anos. Depois de muitos
conflitos, análises, reflexões, perdas e ganhos, ainda assim o vício do
PERTENCIMENTO me dominou completamente e aqui estou para testemunhar que a
minha valorização como pessoa, como cidadão, como militante apaixonado por essa
causa e sobretudo, pela minha entidade, me faz chegar hoje ao comprometimento
total com os Agentes de Pastoral Negros.
Outro ponto importante
e que é uma marca da nossa caminhada de APNs é este assumir-se completamente que
tem implicações na vivência da fé a partir desde dado, na comunidade negra se
começa a perceber formas concretas e elementos da manifestação de Olorun (Deus)
na vida do povo negro. O identificar-se como negro e negra ao resgatar sua
dignidade converte-se no sentido de liberdade, isso favorece a descoberta da
proposta de Olorun (Deus) para todos nós.
Essa
conscientização da nossa negritude e a recuperação da nossa identidade e
pertença aos APNs tem um momento muito forte, que é quando se retoma a história
do nosso povo negro. A começar pelo tráfico de africanos para o Brasil, gravo
na memória até hoje as tristes imagens da Ilha de Goré no Senegal de onde
partiram os últimos navios negreiros para o país, enfim os horrores da
escravidão até a situação de povo marginalizado hoje. Dentro dessa caminhada
constatou-se no passado a necessidade de organizações de luta e contestação ao
regime de opressão instaurado aos negros na América Latina, em especial no
Brasil. Assim entre outras organizações surgimos também nós imbuídos do desejo
da organização, fé e luta.
Companheiros e
Companheiras,
Três décadas se
passaram e aqui estamos nós, para rever a história, fazer memória, lembrar os
que passaram, chorar os que se foram e deixaram suas marcas.
Em minhas andanças
pelo Brasil, tenho encontrado nossos Griôs, alguns cansados ou ainda em forma
de combater o bom combate; nossa juventude aguerrida e sonhadora; nossas
mulheres aguerridas e capazes de agrupar, dinamizar, animar nossos Mocambos;
nossos malungos na luta cotidiana para vencer os preconceitos e sonhar por um
país mais justo e humano. Os APNs tem percorrido seu caminho sempre amparado
pelo combate ao racismo e os preconceitos, a capacitação humana e social, a
descoberta de novas lideranças, o despertar da negritude, a expressão cada vez
mais ampla da inter-religiosidade.
Nosso projeto
político surge dessa dinâmica própria do ser APNs e é nele que está pautada
toda nossa ação para essa década. Embora estejamos na fase da celebração dos
nossos 30 anos ao longo deste ano, não podemos deixar de seguir trilhando nossa
jornada pelo empoderamento do povo negro. A III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR), prevista para acontecer de 5 a 7 de novembro deste
ano, em Brasília, tendo como tema “Democracia e Desenvolvimento sem Racismo: por um Brasil
Afirmativo”. Os APNs de todo o Brasil deverão estar atentos às
etapas preparatórias e empreender esforços para elegermos uma das maiores
delegações na etapa final.
Nosso
trem esta partindo rumo à Alagoas com parada final na estação central de União
dos Palmares, a Serra é nosso destino final para renovar o nosso PERTENCIMENTO
e oxigenar a nossa militância e descermos mais fortes e mais irmanados na luta
cotidiana.
Nuno Coelho
Coordenador Nacional
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