domingo, 14 de abril de 2013

Carta - Nuno Coelho


 

AGENTES DE PASTORAL NEGROS

Conscientização, Organização, Fé e Luta
 
São Paulo, 13 de Abril de 2013
Malungos e Malungas,
Companheiros e Companheiras de Fé e Luta!
            Nesta Carta Mensal, desejo continuar à refletir com vocês o significado do papel que os Agentes de Pastoral Negros do Brasil tiveram nessas três décadas no processo de conscientização e descoberta da negritude em diversos Estados, grupos, pessoas levando o negro a entrar no seu mundo real e assumir uma nova postura diante de si, da vida e da sociedade.
Esta mudança vai marcar a saída de uma posição de não aceitação do seu ser negro, para uma posição de gostar de ser negro e a valorizar os elementos próprios da negritude em especial a cultura, a vestimenta, a fé a partir da experiência e do encontro pessoal de cada um.
Este reconhecer-se negro devolve-lhe a identidade, algo tão difícil de ser recuperado para o negro. Num primeiro momento essa descoberta fica a nível pessoal, passando depois a assumir uma nova dimensão na sua vida: a comunitária, a da militância coletiva.  Dai para diante o retrocesso eu diria, é algo impossível. Ainda me recordo emocionado a minha chegada nos APNs, e ai já se vão nove anos. Depois de muitos conflitos, análises, reflexões, perdas e ganhos, ainda assim o vício do PERTENCIMENTO me dominou completamente e aqui estou para testemunhar que a minha valorização como pessoa, como cidadão, como militante apaixonado por essa causa e sobretudo, pela minha entidade, me faz chegar hoje ao comprometimento total com os Agentes de Pastoral Negros.
Outro ponto importante e que é uma marca da nossa caminhada de APNs é este assumir-se completamente que tem implicações na vivência da fé a partir desde dado, na comunidade negra se começa a perceber formas concretas e elementos da manifestação de Olorun (Deus) na vida do povo negro. O identificar-se como negro e negra ao resgatar sua dignidade converte-se no sentido de liberdade, isso favorece a descoberta da proposta de Olorun (Deus) para todos nós.
Essa conscientização da nossa negritude e a recuperação da nossa identidade e pertença aos APNs tem um momento muito forte, que é quando se retoma a história do nosso povo negro. A começar pelo tráfico de africanos para o Brasil, gravo na memória até hoje as tristes imagens da Ilha de Goré no Senegal de onde partiram os últimos navios negreiros para o país, enfim os horrores da escravidão até a situação de povo marginalizado hoje. Dentro dessa caminhada constatou-se no passado a necessidade de organizações de luta e contestação ao regime de opressão instaurado aos negros na América Latina, em especial no Brasil. Assim entre outras organizações surgimos também nós imbuídos do desejo da organização, fé e luta.
Companheiros e Companheiras,
Três décadas se passaram e aqui estamos nós, para rever a história, fazer memória, lembrar os que passaram, chorar os que se foram e deixaram suas marcas.
Em minhas andanças pelo Brasil, tenho encontrado nossos Griôs, alguns cansados ou ainda em forma de combater o bom combate; nossa juventude aguerrida e sonhadora; nossas mulheres aguerridas e capazes de agrupar, dinamizar, animar nossos Mocambos; nossos malungos na luta cotidiana para vencer os preconceitos e sonhar por um país mais justo e humano. Os APNs tem percorrido seu caminho sempre amparado pelo combate ao racismo e os preconceitos, a capacitação humana e social, a descoberta de novas lideranças, o despertar da negritude, a expressão cada vez mais ampla da inter-religiosidade.
Nosso projeto político surge dessa dinâmica própria do ser APNs e é nele que está pautada toda nossa ação para essa década. Embora estejamos na fase da celebração dos nossos 30 anos ao longo deste ano, não podemos deixar de seguir trilhando nossa jornada pelo empoderamento do povo negro. A III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III CONAPIR), prevista para acontecer de 5 a 7 de novembro deste ano, em Brasília, tendo como tema “Democracia e Desenvolvimento sem Racismo: por um Brasil Afirmativo”. Os APNs de todo o Brasil deverão estar atentos às etapas preparatórias e empreender esforços para elegermos uma das maiores delegações na etapa final.
            Nosso trem esta partindo rumo à Alagoas com parada final na estação central de União dos Palmares, a Serra é nosso destino final para renovar o nosso PERTENCIMENTO e oxigenar a nossa militância e descermos mais fortes e mais irmanados na luta cotidiana. 
            No axé e na esperança!     
 
Nuno Coelho
Coordenador Nacional

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