quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ozenga Palmares

Por: Helcias Pereira
 
 
 
 
 


De repente formou-se uma verdadeira turba, homens, mulheres, idosos, adolescentes, crianças de colo, gente de toda parte... Do sul, do norte, do sudeste, do centro-oeste e do nordeste, mas também de Moçambique, de El Salvador... Gente conhecida e anônima entoando cânticos, batendo palmas, tocando tambor e adjás. Pés pisando forte, outros cadenciando passos, sensações ditosas ao encarar o aclive, arrepiados em pisar o solo sagrado, para sorrir e chorar por seu presente e, sobretudo, por seu passado.

Eram corações pulsantes, alguns deveras acelerados, mentes reflexivas, ansiosas, estonteantes. Essa turba era naturalmente uníssona, reunindo malungos e malungas com o mesmo objetivo: Saudar o herói Zumbi e todos os guerreiros tombados e martirizados, oriundos do quilombo-páscoa ou remanescentes dos quilombos contemporâneos.
 
 
E eis que no brilho encantador das estrelas, o no leve zumbido da brisa constante, ecoou-se por entre às pindoramas dos catolés uma voz feminina a cantar: “Êi Zumbi... Zumbi Ganga meu Rei, você não morreu, você está em mim, você está aqui... Êi Zumbi, seu povo não esqueceu a luta que você deixou pra prosseguir”. Incorporam-se ao coro diversas vozes como a do sacerdote, do ogan, da macota, do griô, dos ativistas e/ou simpatizantes. Todos (as) no caminho da esperança, inspirados para vivenciarem o Ozenga Palmares, o verdadeiro atalho que outrora seria o apogeu da liberdade. 


Choros, suores e sorrisos emaranhados, sofrimentos compactuados em meio aos sonhos e desejos atualizados. E canta-se com sublime harmonia: “Sou de lá de África... se eu não sou de lá os meus pais são de lá, de África... Os meus avós... Os meus ancestrais, são de lá... De África”.


Estávamos todos no platô da Serra da Barriga, acolhidos pelo aconchego do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, compartilhando informações, rememorando a história, convocando e reverenciando nossos ancestrais. E viva Zumbi, Dandara, Aqualtune e Acotirene... Viva Ganga-Zumba, Toculo, Acaiúba e Acaiene. Viva Camuaga, Andalaquituche e Banga... Viva! Viva! E hoje: Viva Abdias Nascimento, Heitor Frizott, Toninho, Batista, Albérico e tantos outros. Viva cada guerreiro (a)... Viva o povo afro-brasileiro.


“Êi meu pai quilombo, eu também sou quilombola, a minha luta é todo dia e toda hora... Êi meu pai quilombo, dizem que Zumbi morreu, Zumbi está vivo nos que lutam como eu”... Assim cantavam os APNs, assim se encantava essa malungada nos plenos 30 anos de uma longa caminhada. Pisar o solo sagrado era um sonho que se tornou realidade para muitos que ali estavam. Será um marco histórico que incentivará a outros beberem do axé dos ancestrais. Valeu Povo de Zumbi.





 Helcias Pereira
APN ANAJÔ – AL
Coord. Nac. de Formação dos APNs


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